segunda-feira, 6 de maio de 2013

Theodor Seixas? Raul Adorno? Sei lá...já não sei.

Quero explicar o título de hoje contextualizando o porquê do mesmo. Durante essa semana que passou li alguns textos sobre o pensador Theodor Adorno e MEU DEUS, que confusão. Os miolos estavam dando nós atrás de nós e cadê que a luz vinha? Parecia apagão.

Sábado, durante a aula de Ética na pós, aconteceu uma ampla discussão cheia de exemplos e partindo disso comecei (sim, só comecei) a entender o pensamento adorniano e respeitá-lo muitíssimo. Explico: além de ser um pensador extremamente crítico ao seu tempo e, mesmo seu tempo sendo há décadas atrás, continua extremamente atual; exalta a arte como ferramenta sublime para essa crítica. Quer coisa mais linda? Quem diria que eu, tão resistente à Filosofia como sempre fui, encontraria em uma referência do pensamento filosófico referências sobre o que acredito? Quantas vezes já ilustrei meus posts com músicas? Quantas vezes já trabalhei durante semestres inteiros em sala de aula com música? Quantas vezes, na falta do que falar e precisando me expressar carrego comigo a música? Quantas vezes? Nem sei. Desde sempre. Encontrar alguém que diga, com toda a propriedade do mundo, que isso não é um efeito tardio da adolescência, mas sim uma manifestação. É uma conquista!

Depois de passar uma manhã toda conversando, lendo, trocando ideias e começando a conhecer Adorno, saí da universidade cheia de pensamentos e questionamentos na cachola e um monte de sugestões de literatura. Li “Educação Após Auschwitz” - que não tinha tido tempo antes da aula – e fiquei arrepiada com a forma com que ele desenha todo um contexto. Quantas, mas quantas vezes usei a questão do Holocausto para exemplificar e até mesmo mediar questões de marginalização delicadíssimas no trabalho com um determinado grupo de adolescentes? Quantas vezes declarei meu amor eterno pela história de Olga Benário Prestes e li e reli o capítulo “A caminho da morte” do livro "Olga", que narra os últimos momentos de angústia que precederam sua morte? Muitas, mas muitas vezes. Mais uma identificação com Adorno? Certamente que sim.

Fiquei pensando, associando, e lembrando do filme que assistimos – meu esposo e eu – semana passada: “Gonzaga,de Pai pra Filho”. Como não associar um assunto ao outro? Falando em música e crítica social, um exemplo é Luiz Gonzaga que na sua simplicidade sertaneja compôs, dentre tantas outras, o clássico “Asa Branca”. Quer crítica maior à situação de esquecimento e negligência sofrida pelo Nordeste? “Que braseiro, que fornalha/Nem um pé de plantação/Por falta d’água perdi meu gado/Morreu de sede meu alazão (...) Hoje longe muitas léguas/Numa triste solidão/Espero a chuva cair de novo/Pra mim voltar pro meu sertão” Pra quê mais clareza? De brinde ainda ganhamos o imensurável prazer de ouvir pequenos trechos de músicas do Gonzaguinha. No momento em que, na aula, falávamos de músicas que passaram pela censura mesmo com intenso conteúdo político por serem inteligentes demais a ponto de camuflar a mensagem, não teve como não pensar em Gonzaguinha. Em um contexto diferente do pai, com ideias renovadas e mais contestadoras, soube usar as palavras com maestria para deixar, sutilmente (nem sempre), sua criticidade pairando no ar. “O trem” e a indescritível “O que é, O que é” são exemplos do seu pensamento crítico e contestador.

Para encerrar com chave de ouro um sábado cheio de reflexões, ao chegar em casa depois do trabalho fomos procurar um filme pra relaxar (mas sem comédia romântica hollywoodiana, né! rsrs) e encontramos, como um presságio – ou melhor, um convite à reflexão, o documentário “Raul – O Início, O Fim e o Meio”. Olha que coisa linda. A primeira coisa que me veio em mente foram lembranças da minha infância e comecinho de adolescência, quando depois do almoço o tio Jose pegava o violão e as revistinhas e todos nós, em casa, entoávamos Raul até cansar. Era “Eu nasci há dez mil anos atrás”, “Gita”, “Cowboy fora da lei” (que particularmente eu achava o máximo), “Maluco Beleza”, “Al Capone”, “A maçã” (que minha mãe adorava)...e por aí ia. “Ouro de Tolo” era interpretada pelo meu tio Márcio e o Osmar, grande amigo da nossa família. Olha que legado maravilhoso todos me deixaram.

Depois do momento nostalgia, durante o documentário fui pensando em relações diretas entre Raul e Adorno – por isso o título. Raul era, em sua essência, questionador. Desde antes de começar a cantar, quando ainda era só fã de Elvis, já deixava a gola erguida para desafiar a mãe que o mandava abaixar. Como disse um dos entrevistados, “Raul, respirando, era questionador”. Várias filmagens antiquíssimas mostradas dele trazem entrevistas em que repetia quase que como um mantra que fazia músicas para dizer aquilo que, em sua opinião, tinha que ser dito. Não coloco aqui em jogo suas loucuras e viagens, mas sim a genialidade da sua crítica. “Ouro de Tolo”, “Eu também vou reclamar”, “Aluga-se”, "O trem das Sete" e “Sociedade Alternativa” são exemplos clássicos da sua acidez misturada com o jeito de certa forma caricata de sua personalidade. Mas o ponto alto da minha comparação foi quando ele afirmou por A mais B que não era ninguém para criar conceitos, pois cada um que crie os seus. Eu simplesmente pasmei diante da TV. É recompensador, para se dizer o mínimo, enxergar em um assunto que apesar de complexo começa a lentamente se esclarecer, um link claro e palpável com referências que sempre estiveram presentes em minha vida.
 
Preciso agradecer aos meus pais – minha mãe educadora e meu pai admirador eterno da música raiz – por poder ter ouvido, desde criança, de Tonico e Tinoco à Pink Floyd. Agradeço por ter crescido em um ambiente cheio de músicas das quais muitas são eternizadas pela mensagem que apresentam. Agradeço por, junto com a minha educação, me presentearem com um mundo com muito mais arte do que entretenimento. Porque o entretenimento passa, e a arte jamais. Por isso carrego comigo dois amores que não se tornaram sucessos na minha geração, muito pelo contrário, um da década de 80 (Legião Urbana) e outro da década de 60 (The Beatles), mas que me acompanham desde sempre e estarão comigo para todo o sempre.

E que venham muitas mais reflexões...muitos mais Adornos e Rauls, muitos mais pontos de interrogação quase que imbatíveis...muitos links e descobertas. E que venham...por que “Controlando a minha maluquez, misturada com minha lucidez vou ficaaaaaaaaaaaaaaaaaar, ficar com certeza Maluco Beleza...”



2 comentários :

  1. Tali... que delícia de texto... pensei em tanta coisa que viajei... sobre a Ética recomento "Clovis de Barros" tem vídeos maravilhosos dele na internet...procure Clóvis de Barros - a vida que vale a pena ser vivida... o título já diz tudo... E sobre a música ah... a música... Raul... sempre eterno... poeta maluco... e juntando os dois: Eu prefiro ser esta metamorfose ambulante, porque o que me agrada hoje pode não me agradar amanhã e não há mal nenhum nisso... Obrigada pelo texto Tali... Beijão!! Prof. Kathy

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  2. Ow minha linda...obrigada pelas palavras. Procurarei, com certeza, adoro as referências que me indicas =D bjã viu!!

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