quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Cultivadores de mundo!

“Super fantástico amigo!
Que bom estar contigo
No nosso balão!

Vamos voar novamente
Cantar alegremente
Mais uma canção


Tantas crianças já sabem
Que todas elas cabem
No nosso balão


Até quem tem mais idade
Mas tem felicidade
No seu coração


Sou feliz, por isso estou aqui
Também quero viajar nesse balão!
Super fantástico!
No Balão Mágico,
O mundo fica bem mais divertido!


Sou feliz, por isso estou aqui
Também quero viajar nesse balão!


Super fantásticamente!
As músicas são asas da imaginação
É como a flor e a semente
Cantar que faz a gente
Viver a emoção


Vamos fazer a cidade
Virar felicidade
Com nossa canção
Vamos fazer essa gente
Voar alegremente
No nosso balão!


Sou feliz, por isso estou aqui
Também quero viajar nesse balão!
Super fantástico!
No Balão Mágico!
O mundo fica bem mais divertido!”


(Super Fantástico - A Turma doy Balão Mágico)


Há muito tempo penso em fazer um post com essa música, mas como ultimamente meu dever cívico falou mais alto, fui deixando de lado. Pois bem, vamos dar um tempo na política e, agora, esperar que tudo de certo né!


Super fantástico fez parte da trilha sonora da minha infância, e por mais que eu me sinta ultrapassada quando falo isso, continuarei a falar: as músicas da minha infância eram milhões de vezes melhores do que as que as crianças ouvem hoje em dia.


Quem sabe por eu ter vivido uma infância extremamente musical, sempre achei muito importante a musicalidade na sala de aula. E, é claro, Super fantástico é minha companheira fiel. Vocês acham que os alunos não gostam ou acham graça? Muito pelo contrário, adoram. A primeira vez que fiz uso dela foi durante o primeiro ano que trabalhei com Pré-Escola; para a apresentação no encerramento do ano letivo das crianças. Foi absolutamente lindo.


Mas alguém já prestou atenção, efetivamente, no que a música diz? Ela não cativa só pelo ritmo divertido. Ela tem uma letra simplesmente mágica. Quem nunca quis estar naquele balão? Pois eu sempre, SEMPRE quis. Ficava imaginando um cesto de palha muito grande onde coubesse o mundo inteiro, e a parte de cima era feita de muitos tecidos coloridos das mais diversas formas, como uma colcha de retalhos. E o fogo que fazia o balão subir era cor de rosa, é claro. Assim como eu, tenho certeza que muita gente se pegou pensando no tal do balão. Mas eu pensava nele assim quando era criança.


Quando me tornei professora, passei a pensar nele de formas mais mágica ainda. Pra mim, o balão é a educação. É exatamente como o balão que vejo a sala de aula e a minha atuação nela.


Pra mim, a sala de aula é um lugar de fraternidade, sem essa conversa de que todos são iguais, mas sim, acolhidos em sua diferença. A sala é um lugar de alegria, onde cada vírgula que é aprendida precisa ser uma novidade, precisa instigar a busca pelo conhecimento infinito. Na sala não há espaço pra discriminação, marginalização, preconceito, julgamentos, não cabe idade, cor, credo, enfim, cada um é cada um e juntos somos sempre mais. Na sala cabe o mundo, ah, com certeza cabe. Esse mundo se mostra através das pessoas que dela fazem parte, dos livros e filmes, das ilustrações, mas principalmente da imaginação. Essa é nossa mais valiosa passagem para onde quer que desejemos ir.


A sala de aula é um canteiro extremamente fértil, onde todas as esperanças, expectativas, os sonhos, os projetos, os anseios são depositados, plantados, adubados e, finalmente, colhidos. Muitas vezes essa colheita leva anos, décadas, e é feita quando os alunos já estão muito longe. Pode ser quando estiverem trabalhando, constituindo família, educando seus filhos, participando da sociedade, melhorando o mundo. Não depende de quando, e sim COMO. Se a sementinha foi bem cultivada, fará do mundo muito, mas muito melhor. Olha a nossa responsabilidade. Nós, professores, somos cultivadores de mundo.


Esse é nosso trabalho, essa é nossa missão. E assim como os viajantes do balão, sou feliz, mas muito feliz mesmo por fazer parte dele. Pra mim, a educação em toda sua totalidade é o balão, um balão grande, colorido, com fogo cor de rosa, e no seu cesto cabe o mundo inteiro!!!


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Democracia? Eu acho que não.

Fiquei um tempão sem escrever porque precisava organizar minhas ideias. Digo isso porque época de eleição mexe muito com os ânimos das pessoas – inclusive com os meus – e é preciso dosar o que vai ser dito para que seja, de fato, produtivo.

Muitas coisas me deixam indignada com a política, mas quero falar de algumas delas – as que considero mais importantes – separadamente para não perder o foco, pois acho que poucas pessoas tem o conhecimento necessário para julgar com clareza a grandiosidade do seu voto e o peso que ele tem.


Pois bem, quero agora explicar o porquê do título do post. Eu sempre soube que nas eleições existia um cálculo para determinar a eleição efetiva dos candidatos, as tais “cadeiras” de cada partido. Mas só há pouquíssimo tempo consegui entender o que isso significa e me decepcionei diante do fato concreto de não vivermos em uma democracia.


Os cálculos são simples e envolvem dois fatores: quociente eleitoral e quociente partidário. Para calcular o quociente eleitoral soma-se a quantidade de votos válidos de um estado e divide-se pelo número de vagas que o mesmo possui na Câmara dos Deputados. Para calcular o quociente partidário divide-se a quantidade de votos recebida por cada partido pelo quociente eleitoral.


Depois que tomei conhecimento disso percebi o poder de manipulação que os maiores sempre tem sobre os menores, uma cadeia alimentar doentia. Explico: a candidata que recebeu meu voto para Deputada Federal recebeu quase 130 mil votos. No entanto, ela não conseguiu se eleger. Alguém sabe por quê? Simples. Ela, defendendo seus ideais políticos, abandonou um grande partido ao qual pertencia e filiou-se a um bem menor, que pela sua quantidade de votos não conseguiu cadeira na Câmara. Por outro lado, outra candidata sem propostas concretas nem ideais claros, devido à grandiosidade de seu partido e ao investimento em uma grande campanha de marketing – que somados geram imensa popularidade pela falta de consciência política que grande parte dos eleitores tem – angariou nada mais nada menos que quase 500 mil votos, ganhando cadeiras para o seu partido e levando com ela Deputados que não tiveram nem a metade dos votos da minha.


Foi exatamente isso que aconteceu no tão comentado caso do candidato e agora, até que se prove o contrário, Deputado Federal, Tiririca. Ele recebeu aproximadamente um milhão de votos. Consequência: levou consigo políticos que não conseguiriam se eleger pela quantidade de votos recebidos, inclusive mensaleiro que deveria estar bem longe da política. Acaso? Claro que não. Isso foi uma estratégia – muito bem sucedida – do partido para angariar votos e conseguir garantir mais cadeiras na Câmara.


Agora, quem é que vai dizer que isso é democracia? Não é. Não tem como ser. Democrática seria a eleição onde os candidatos mais votados pelo povo o representassem. Democrática seria a eleição onde um candidato que recebeu 130 mil votos ficasse a frente de outro que recebeu 30 ou 40 mil. Por isso quando aparecem reportagens em Brasília vemos Deputados Estaduais e Federais sendo entrevistados e não sabemos nem de onde saíram. Claro, não fomos nós que os colocamos lá, foi um esquema, um conchavo para que SEMPRE seja beneficiado o maior, o mais poderoso. República? Não, não aqui.


Pensando em tudo isso vejo o quanto é importante nós, como professores, sermos sabedores desse tipo de coisa. Nós temos como responsabilidade formar cidadãos críticos e atuantes, que saibam participar e ser construtores da própria sociedade. E uma parte muito importante da criticidade é o conhecimento prévio para fazê-la.


Quero deixar registrados dois pensamentos para pura reflexão. Rousseau e Paulo Freire são ícones na educação democrática, personagens de importância ímpar que muito tem a contribuir com a formação de qualquer professor, e deixo conceitos advindos deles que tem total coerência com tudo que escrevi até agora:


“A pátria não subsiste sem liberdade, nem a liberdade sem a virtude, e a virtude sem os cidadãos (...). Ora, formar cidadãos não é questão de dias; e para tê-los adultos é preciso educá-los crianças.” (Rousseau).


“O educador democrático não pode negar-se ao dever de, na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão.” (Paulo Freire).


Para encerrar, deixo a música “Perfeição” – Legião Urbana, onde há anos atrás foi pintado um cenário que, infelizmente, não mudou muito. Mas é preciso acreditar que um dia mudará, e que isso depende de cada um.