quarta-feira, 9 de julho de 2014

Nem só de euforia vive o homem...

Devido a vários comentários de todos os cunhos que tenho visto em minha timeline, resolvi manifestar minha opinião sobre o que aconteceu ontem, 08 de Julho de 2014, no Mineirão. Farei isso no blog porque é onde costumo derramar meus pensamentos, e farei de maneira bastante tranquila, pois tive a mesma opinião com relação a esse grandioso evento desde 2007, por isso adjetivos como hipócrita, coxinha, e tantos outros, não me atingem. A carapuça não me serve.

Como eu disse, desde o anúncio de que a Copa do Mundo de 2014 seria no Brasil, lá em 2007, senti um frio na espinha só de pensar em tudo que poderia acontecer – e se concretizou. Pensava, com muito pesar, nos projetos superfaturados, nos desvios de dinheiro, na promoção de cartolas e figurões, nas campanhas políticas pautadas no futebol, na euforia com a festa e consequentemente o esquecimento dos desmandos, e assim por diante.

Com a aproximação do mundial, na Copa das Confederações, vi o povo se mobilizar de maneira que nunca tinha visto antes. Sim, já tinha acontecido. Não ignoro aqui tantos movimentos sociais – principalmente encabeçados pela juventude – que já fizeram parte da nossa história, mas os eventos de Junho de 2013 foram os primeiros que pude participar, e não só ler em folhetins. Neles pude ver a falta de preparação do país representada pela truculência e terrorismo do Estado personificado na brigada militar gaúcha e nas polícias militares de tantos outros estados.

Vi pessoas sendo retiradas de seus lares da pior maneira possível, ficando atiradas à sua própria sorte, mais marginalizadas e subjulgadas do que nunca. Vi trabalhadores perderem a vida nas obras dos tão esperados estádios padrão FIFA, e ficar por isso mesmo. Vi uma imprensa extremamente parcial, a exceção do canal ESPN, esquecendo totalmente do seu papel informativo para preocupar-se, cada vez mais, em tomar partido e garantir seu pedaço de bolo na festinha da CBF/FIFA e de tantos outros.

Quando o mundial se aproximou ainda mais, vislumbrei, temerosamente, o impacto negativo desse mundial na minha vida, considerando que sou uma profissional comissionada e, quando não trabalho, não ganho. Não, não estou no time dos que clamaram por feriado. Bem pelo contrário. Sinto não poder contar com a isenção das minhas contas durante esse mês assim como a FIFA é isenta de seus impostos. Mas como dizem, não é pra quem quer, é só pra quem pode, né não?

No entanto, vi pessoas que criticaram fervorosamente a Copa do Mundo pintando a cara de verde e amarelo, colocando bandeira nas costas e cantando: “eeeeeeeeeeeeeeu, sou brasileeeeeeeeeeeeiro, com muito orguuuuuuuuuuulho, com muito amooooooooooooor...”. Desculpem-me, mas isso sim é me soa como hipocrisia.

Não tenho absolutamente nada contra quem torce pela seleção, muito pelo contrário. Venho de uma família que sofre – e hoje provavelmente está despedaçada – com a seleção e torce com todo amor por ela. Mas também exijo que o meu posicionamento contrário seja respeitado. No entanto, essa postura volúvel de “vou de acordo com a maré” é muito, mas muito triste.

O tal do “Maria vai com as outras” é um elemento muito perigoso na sociedade. Ele protestou quando achou que era descolado estar em protestos, aí quando a galera fez feriado e se reuniu pra beber cerveja nos jogos ele também estava lá, como não? Mas depois da derrota ele julgou que seria super maneiro sair vomitando ofensa aos jogadores, rasgando bandeiras e fazendo baderna. Que patriota é esse? Patriota sou eu, que tento fazer a minha parte pro meu país caminhar.

Essa reação não diz respeito ao futebol, mas sim, a uma patologia social na qual estamos imersos. O povo foi quem mais sofreu com a preparação do mundial. Mundial esse que deixou o povo fora dos estádios, porque esse povo – o brasileiro trabalhador – não podia pagar o que a dona FIFA queria receber. A massa brasileira só viu a banda passar, sem poder dançar sua música. Essa mesma sociedade opressora coloca o futebol como o grande salvador da pátria, tornando-o o algoz do mundo quando tem um resultado negativo.

Nunca, em momento algum, me coloquei contra os atletas. Eles estão na ponta de um iceberg que é muito, mas muito profundo. Mas acho surreal o terrorismo feito com essas criaturas. Não vou aqui tecer críticas sobre o futebol, pois desse não entendo. Mas assim como em tantos outros âmbitos, os medalhões com seu anseio pelo poder minam cada vez mais o futebol, e deixam a responsabilidade nas mãos de meninos. Sim, são meninos correndo atrás do seu sonho de defender a canarinho. Um exemplo é o menino David Luiz, que tem se mostrado generoso com seus fãs e companheiros de seleção e profissão, e dono de uma postura esportiva exemplar. Esse menino trazia em suas costas – e isso ficou evidente em uma entrevista que concedeu ao término da partida – a responsabilidade de “trazer alegria pro seu povo, que jásofre tanto...”. Fiquei sem palavras ao ver a dor desse garoto ao pedir desculpas para a torcida e, visivelmente despedaçado, se apropriar de uma responsabilidade que não é dele. Eu jamais teria coragem de vaiar esses atletas como foram vaiados, nem de crucificá-los como estão sendo crucificados.

Te acalma menino, não leva o mundo nas costas. Ele é pesado demais!

Senti vergonha não por uma derrota histórica, mas sim por ver a seleção adversária aplaudindo e empurrando a brasileira para frente em sinal de respeito e admiração, enquanto a elite brasileira a vaiava covardemente. O patriotismo ocasional foi-se embora da mesma maneira que veio. Levado pelo vento do nosso tão tropical inverno.

Depois quem é que vai dizer que futebol não se confunde com política? Que futebol não trata dos problemas sociais? Não me venham com bitolices e senso comum.

O Brasil não estava pronto para realizar o mundial. E o povo brasileiro não está pronto para perder, mesmo perdendo tanto o tempo todo.


Tudo isso está amarrado, todos os fatos se relacionam entre si. E o não seria o hexa que traria a resposta!