segunda-feira, 27 de maio de 2013

Relações de poder ou poder de relações???

Vou acumular, nesse post, assuntos de duas semanas porque eles estão intimamente ligados. Desde que voltei a estudar estou escrevendo praticamente só sobre coisas da pós. Quem acompanha o blog vai acabar estudando junto comigo. Mas não mudei, por isso, minha escrita, pois apenas aproveito os ganchos que surgem em sala de aula para continuar, com sempre, expondo minha opinião sobre as coisas que me cercam.

O assunto central do post de hoje começou na aula de sábado, 18 de Maio, onde assistimos ao filme “A Onda” (Die Welle), filme alemão que traz a história verídica de um grupo de alunos que em um curso de uma semana tem sua vida mudada. Ao trabalhar o tema “Autocracia”, o professor percebe no grupo uma certeza de que o nazismo jamais voltaria a acontecer, que a sociedade estava, por assim dizer, “vacinada” desse mal. Baseado nisso, monta com os alunos um grupo intitulado “A onda”, levando em consideração as normas de conduta, espírito coletivo, disciplina e a busca de um bem maior. Esse grupo tem um impacto diferente em cada um que faz parte dele, impacto esse que depende do contexto familiar, e principalmente do contexto social dos adolescentes. Eles passam a se defender entre si – mesmo os que anteriormente tinham alguma diferença – porque “um grupo unido é mais forte”. Ao final da semana devido a uma cadeia de acontecimentos o professor se vê obrigado a desmanchar o grupo, pois as atitudes do mesmo tomaram proporções que fugiram do controle de todos. Esse término foi extremamente traumatizante e trágico, mas fica a lição de que É SIM possível, mesmo depois do mundo conhecer as consequências do nazismo e do stalinismo, um bom articulador manipular um grupo de pessoas atacando suas principais carências e necessidades e usar disso para, sorrateiramente, impor seus ideais e mobilizar uma sociedade para segui-los. Foi o que fez Hitler, foi o que fez o professor (com o objetivo de mostrar que isso ainda era possível), e cada qual em seu grau de proporção, é o que as relações de poder fazem.

Aí entra a aula de sexta, 24/05, onde o tema foi Foucault. A parte de sua obra abordada resumidamente na aula foi exatamente o que diz respeito às relações de poder. O pensador defende que toda relação de poder é repressora, por mais que possa servir para dar voz e vez para aquele que era oprimido e marginalizado, em algum momento esse poder se tornará repressor.

Toda a discussão riquíssima de sexta fez, pelo menos pra mim, um link direto com a aula de sábado, 25/05, quando o professor Rogério Maia Garcia, professor do curso de Direito, veio a convite à minha turma falar sobre a questão dos tóxicos e contextualizar, através de uma linha do tempo no que diz respeito à legislação que abrange o tema, o impacto desse problema na sociedade. O que se seguiu foi uma abordagem clara e prática do que representa a droga propriamente dita no sistema carcerário, o impacto direto na sociedade e como isso tudo vem sendo tratado pelas políticas públicas. Foi inevitável não citar a notícia do momento: o Projeto de Lei 7663/10 do Deputado Federal Osmar Terra, que defende a internação compulsória do dependente químico. Não entrarei aqui em detalhes, caso contrário o texto ficará mais extenso do que está caminhando para ser, mas a lei – caso promulgada – dará um tratamento completamente arbitrário e levará para a instância judicial um problema que é, acima de qualquer outra coisa, de saúde pública.

Tudo isso, a meu ver, está interligado. Explico: o filme, a discussão sobre Foucault e a internação compulsória tratam das relações de poder. No filme o professor reproduz com seus alunos o impacto do poder exercido sobre um grupo de pessoas em uma das épocas mais sombrias da história da humanidade; e o projeto do Osmar Terra (e fico feliz ao perceber que esse não é um ponto de vista apenas meu, mas de muita gente) vem através das relações de poder da política X povo e o auxílio total da mídia, convenientemente visar tirar da rua o dependente químico que está “enfeiando” as cidades justamente pouco antes da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. É, como tenho ouvido muito ultimamente, uma higienização social para maquiar uma realidade.

O projeto desconsidera o grau dependência do usuário, assim como a falta total de estrutura para os dependentes que hoje, voluntariamente, procuraram internação e não encontram. O que se sugere caso o número de internações aumente desmedidamente? Nada. Ouvi ainda hoje o Deputado afirmando que as internações não necessariamente acontecerão em clínicas especializadas, mas também em leitos comuns de hospitais. Onde está o caráter recuperatório? De onde surgirão esses leitos que, pelo menos até onde conheço, simplesmente não existem nem para a demanda rotineira de pacientes?

Sempre, SEMPRE mesmo me perguntei: se existem bilhões e mais bilhões para a construção de estádios que começaram a ser erguidos com a promessa de utilizarem apenas verbas privadas e “de repente, não mais que de repente”, o quadro mudou no meio do caminho; se existe a possibilidade de oferecer de presente um estádio para a empresa de um bilionário administrar, se existem ofertas e mais ofertas de auxílios a países vizinhos (ou não) em dificuldade, por que não é possível existir um investimento pesado em saúde pública no que diz respeito ao problema dos tóxicos? Não digo isso na instância da polícia combatendo traficantes – porque é um tema que daria um post por si só. Digo isso no auxílio real ao dependente e sua família, condições dignas de recuperação e reinserção na sociedade tratando-o como o ser humano que de fato é – e não o marginalizando cada vez mais – fazendo com que ele não tenha apenas seu organismo desintoxicado, mas sim sua alma. Estruturas assim custam caro? Claro que sim. É necessária estrutura física e humana, e muitas, mas muitas vagas, tantas quanto os estádios estão oferecendo e que essas certamente não serão ocupadas. Ou alguém vai me convencer de que um estádio em Brasília, em Manaus ou em Cuiabá terá, sempre, quarenta ou cinquenta mil lugares ocupados? Não né.

Esse é o poder do “viva essa energia” exercido sobre todos os brasileiros. Eu realmente não imagino o resultado de uma hipotética enquete sobre esses dois eventos supracitados. Não sei se a maioria das pessoas seria contra ou a favor, pois tenho ciência de que estamos muito longe de ter uma sociedade realmente crítica (vide quadro político), mas tenho plena convicção de que se as pessoas tivessem que escolher entre o seu bem estar e qualquer outra coisa, escolheriam o bem estar. Bem estar esse proporcionado através do velho chavão: “educação, saúde, segurança e transporte público de qualidade”...que de tão velho já está desgastado e quase démodé, mas ainda longe de acontecer em sua plenitude.

Não quero com tudo isso, dizer que não acredito no Brasil e no seu poder de desenvolvimento. Acredito. Sou uma eterna otimista. Mas tenho ciência de que isso só acontecerá quando vier à tona uma reforma política. Não de estruturas políticas, mas de pensamento. Só acredito que alguma coisa vai mudar quando a sociedade tiver criticidade suficiente para se libertar do que é vendido, sair da caverna e basear suas decisões no que é real, e não nas sombras. Abandonar todo e qualquer fanatismo político e ideológico e entender que, como discutimos na mesma aula de sábado, a maioria dos problemas tem sua solução (justiça) na ética e não na elaboração de uma lei atrás da outra, e cada vez que fugimos dessa realidade nos afastamos mais e mais da real evolução.

Enquanto as relações de poder forem maiores do que o poder das relações, uma ditadura camuflada continuará permeando a nossa história. A chave pra mim, como não é novidade nenhuma, é a educação. É por isso que estudo, leio, penso, reflito, questiono. Porque acredito na mudança e espero [participar e] vê-la acontecer.





domingo, 12 de maio de 2013

A conjugação do verbo AGIR.

Eu ajo, tu ages, ele age...nós agimos, vós agis, eles agem. Qualquer que seja a conjugação escolhida para ganhar uma definição, a primeira é a mais difícil. Uma reação bem comum entre os professores (e me incluo nessa lista) é de, ao primeiro questionamento de por que o fulaninho age assim, começar a discorrer praticamente uma tese para responder: porque a família é desestruturada, porque é carente, porque quer chamar atenção, porque ...porque...porque... É a síndrome do “PORQUE”!

Na última aula da pós recebemos o seguinte “tema”: elaborar um texto respondendo a questão: Por que ajo como ajo? A minha primeira resposta mental foi: Meu Deus, não sei! Isso porque sou uma pessoa extremamente imediatista. Vim pra casa pensando, pensei, pensei, pensei...e não cheguei a uma conclusão só, mas a várias.

Ajo como ajo por uma cadeia de coisas intercaladas e responsáveis pelo desenho do que sou. Desde criança quis ser professora, desde minhas primeiras lembranças adorava brincar com cadernos e fazer de conta que dava aula ao meu irmão, e tenho certeza que isso foi se desenhando, mesmo sem que eu percebesse, no decorrer da minha formação (não acadêmica, mas sim pessoal).

Sou de uma família simples do interior, fui criada fora de shoppings e aglomerações, fui criada na rua correndo, subindo em árvore, pulando amarelinha e andando de bicicleta, por isso enquanto adulta e profissional, sempre ofereci aos meus alunos o máximo de ludicidade possível, independente da idade. Como falta ludicidade no mundo. Essa infância que foi tão maravilhosa não pode se perder no tempo e no espaço, tem que ser dada de presente.

Como já escrevi no post anterior, sou extremamente musical. Não fico um minuto sem música, se puder. O que quero expressar e me faltam palavras, nunca, mas nunca mesmo faltam músicas. Isso pode ser porque minha família é tão musical quanto eu. Viajámos em uma época em que ter aparelho de som com cd no carro era luxo para poucos, e o toca fitas nem sempre funcionava, então cantávamos. Cantávamos estrada adentro... Parávamos, ríamos, e cantávamos de novo. O meu ser musical não é só meu, meu irmão tanto quanto é movido pela música. Está realizando, passo a passo, o sonho de ser músico e com isso realiza o meu também. Quanto orgulho.

Sou absurdamente crítica, muitas vezes até demais, sendo inclusive um tanto quanto impertinente. Sou filha de professora, sobrinha de professora, neta (emprestada) de professora. No decorrer de toda a minha vida vejo o descaso com a educação e os profissionais que a fazem, no peito e na raça, acontecer. Cresci vendo meu pai discursar sobre a situação política do país e compartilhando com sua indignação perante a mesma. Conforme a adolescência e Legião Urbana foram chegando, me tornei, de certo modo, mais crítica que ele. Se hoje articulo e exponho minhas ideias sempre que posso, é porque minha primeira Ágora foi o seio da minha família.

Há quase 11 anos ingressei na faculdade e comecei a trabalhar em sala de aula. Foi, acredito, a primeira realização da minha vida. Tive a sorte de entrar no mercado de trabalho fazendo o que eu tinha a certeza de ser a MINHA profissão. Os desafios eram tão, mas tão imensos que às vezes faltava até ar, mas lá estava minha mãe e sua maestria em lecionar, me dando socorro atrás de socorro. Quanto mais eu aplicava em minha prática pedagógica o que ela falava, mais fácil, tranquilo e compensador ficava meu trabalho. Com isso aprendi a sugar (no bom sentido) tudo que as pessoas mais experientes que eu e que – no meu ponto de vista – realizavam um bom trabalho tinham a me oferecer de informação e experiência. Tornei-me uma verdadeira esponja. Sou assim até hoje.

Tenho, além de tudo isso, autores, músicos, enfim, pensadores aos quais recorro há muito tempo e que são responsáveis por parte do meu agir. Paulo Freire, sem dúvida, tornou-se um deles muito cedo e muito da minha concepção de agir profissional vem dele. Assim como Rubem Alves. Como, pra mim, uma pessoa é um ser único independente de onde tenha que aplicar suas convicções, esses mestres do pensar se tornaram também, de certa forma, mentores pessoais.



Apesar de Durkheim conseguir definir o que penso em uma frase, mesmo escrevendo tanto não consegui responder o questionamento “Por que eu ajo como ajo” de forma sucinta. É que, pra mim, isso é impossível. Ajo como ajo por influências da minha criação, por influências das informações que recebi durante toda minha vida até agora, por influências das pessoas que considero exemplos, pela maturidade que é adquirida dia a dia e pela falta de maturidade que descubro que ainda tenho... Pelas escolhas que a soma de tudo isso me faz tomar o tempo todo e pelas responsabilidades que essas escolhas derrubam no meu colo.

Ajo como ajo porque em alguns momentos da minha vida alguém me falou que era certo, e em outros eu mesmo percebi. Isso não quer dizer que eu acerte o tempo todo. Se fosse assim, teria uma vida estagnada, porque o impulso de continuar vem das tentativas de acertar que acabaram não dando certo e trazendo uma nova empreitada.

E como não poderia deixar de ser, a música. Eu era um Lobisomem Juvenil (Legião Urbana) ilustra um pouco de por que ajo como ajo, mesmo esse agir sendo cheio de incertezas e contradições... “Qual foi a semente que você plantou?/Tudo acontece ao mesmo tempo/Nem eu mesmo sei direito/O que está acontecendo/E daí de hoje em diante/Todo dia vai ser o dia mais importante...”


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Theodor Seixas? Raul Adorno? Sei lá...já não sei.

Quero explicar o título de hoje contextualizando o porquê do mesmo. Durante essa semana que passou li alguns textos sobre o pensador Theodor Adorno e MEU DEUS, que confusão. Os miolos estavam dando nós atrás de nós e cadê que a luz vinha? Parecia apagão.

Sábado, durante a aula de Ética na pós, aconteceu uma ampla discussão cheia de exemplos e partindo disso comecei (sim, só comecei) a entender o pensamento adorniano e respeitá-lo muitíssimo. Explico: além de ser um pensador extremamente crítico ao seu tempo e, mesmo seu tempo sendo há décadas atrás, continua extremamente atual; exalta a arte como ferramenta sublime para essa crítica. Quer coisa mais linda? Quem diria que eu, tão resistente à Filosofia como sempre fui, encontraria em uma referência do pensamento filosófico referências sobre o que acredito? Quantas vezes já ilustrei meus posts com músicas? Quantas vezes já trabalhei durante semestres inteiros em sala de aula com música? Quantas vezes, na falta do que falar e precisando me expressar carrego comigo a música? Quantas vezes? Nem sei. Desde sempre. Encontrar alguém que diga, com toda a propriedade do mundo, que isso não é um efeito tardio da adolescência, mas sim uma manifestação. É uma conquista!

Depois de passar uma manhã toda conversando, lendo, trocando ideias e começando a conhecer Adorno, saí da universidade cheia de pensamentos e questionamentos na cachola e um monte de sugestões de literatura. Li “Educação Após Auschwitz” - que não tinha tido tempo antes da aula – e fiquei arrepiada com a forma com que ele desenha todo um contexto. Quantas, mas quantas vezes usei a questão do Holocausto para exemplificar e até mesmo mediar questões de marginalização delicadíssimas no trabalho com um determinado grupo de adolescentes? Quantas vezes declarei meu amor eterno pela história de Olga Benário Prestes e li e reli o capítulo “A caminho da morte” do livro "Olga", que narra os últimos momentos de angústia que precederam sua morte? Muitas, mas muitas vezes. Mais uma identificação com Adorno? Certamente que sim.

Fiquei pensando, associando, e lembrando do filme que assistimos – meu esposo e eu – semana passada: “Gonzaga,de Pai pra Filho”. Como não associar um assunto ao outro? Falando em música e crítica social, um exemplo é Luiz Gonzaga que na sua simplicidade sertaneja compôs, dentre tantas outras, o clássico “Asa Branca”. Quer crítica maior à situação de esquecimento e negligência sofrida pelo Nordeste? “Que braseiro, que fornalha/Nem um pé de plantação/Por falta d’água perdi meu gado/Morreu de sede meu alazão (...) Hoje longe muitas léguas/Numa triste solidão/Espero a chuva cair de novo/Pra mim voltar pro meu sertão” Pra quê mais clareza? De brinde ainda ganhamos o imensurável prazer de ouvir pequenos trechos de músicas do Gonzaguinha. No momento em que, na aula, falávamos de músicas que passaram pela censura mesmo com intenso conteúdo político por serem inteligentes demais a ponto de camuflar a mensagem, não teve como não pensar em Gonzaguinha. Em um contexto diferente do pai, com ideias renovadas e mais contestadoras, soube usar as palavras com maestria para deixar, sutilmente (nem sempre), sua criticidade pairando no ar. “O trem” e a indescritível “O que é, O que é” são exemplos do seu pensamento crítico e contestador.

Para encerrar com chave de ouro um sábado cheio de reflexões, ao chegar em casa depois do trabalho fomos procurar um filme pra relaxar (mas sem comédia romântica hollywoodiana, né! rsrs) e encontramos, como um presságio – ou melhor, um convite à reflexão, o documentário “Raul – O Início, O Fim e o Meio”. Olha que coisa linda. A primeira coisa que me veio em mente foram lembranças da minha infância e comecinho de adolescência, quando depois do almoço o tio Jose pegava o violão e as revistinhas e todos nós, em casa, entoávamos Raul até cansar. Era “Eu nasci há dez mil anos atrás”, “Gita”, “Cowboy fora da lei” (que particularmente eu achava o máximo), “Maluco Beleza”, “Al Capone”, “A maçã” (que minha mãe adorava)...e por aí ia. “Ouro de Tolo” era interpretada pelo meu tio Márcio e o Osmar, grande amigo da nossa família. Olha que legado maravilhoso todos me deixaram.

Depois do momento nostalgia, durante o documentário fui pensando em relações diretas entre Raul e Adorno – por isso o título. Raul era, em sua essência, questionador. Desde antes de começar a cantar, quando ainda era só fã de Elvis, já deixava a gola erguida para desafiar a mãe que o mandava abaixar. Como disse um dos entrevistados, “Raul, respirando, era questionador”. Várias filmagens antiquíssimas mostradas dele trazem entrevistas em que repetia quase que como um mantra que fazia músicas para dizer aquilo que, em sua opinião, tinha que ser dito. Não coloco aqui em jogo suas loucuras e viagens, mas sim a genialidade da sua crítica. “Ouro de Tolo”, “Eu também vou reclamar”, “Aluga-se”, "O trem das Sete" e “Sociedade Alternativa” são exemplos clássicos da sua acidez misturada com o jeito de certa forma caricata de sua personalidade. Mas o ponto alto da minha comparação foi quando ele afirmou por A mais B que não era ninguém para criar conceitos, pois cada um que crie os seus. Eu simplesmente pasmei diante da TV. É recompensador, para se dizer o mínimo, enxergar em um assunto que apesar de complexo começa a lentamente se esclarecer, um link claro e palpável com referências que sempre estiveram presentes em minha vida.
 
Preciso agradecer aos meus pais – minha mãe educadora e meu pai admirador eterno da música raiz – por poder ter ouvido, desde criança, de Tonico e Tinoco à Pink Floyd. Agradeço por ter crescido em um ambiente cheio de músicas das quais muitas são eternizadas pela mensagem que apresentam. Agradeço por, junto com a minha educação, me presentearem com um mundo com muito mais arte do que entretenimento. Porque o entretenimento passa, e a arte jamais. Por isso carrego comigo dois amores que não se tornaram sucessos na minha geração, muito pelo contrário, um da década de 80 (Legião Urbana) e outro da década de 60 (The Beatles), mas que me acompanham desde sempre e estarão comigo para todo o sempre.

E que venham muitas mais reflexões...muitos mais Adornos e Rauls, muitos mais pontos de interrogação quase que imbatíveis...muitos links e descobertas. E que venham...por que “Controlando a minha maluquez, misturada com minha lucidez vou ficaaaaaaaaaaaaaaaaaar, ficar com certeza Maluco Beleza...”



quarta-feira, 1 de maio de 2013

Ética ou falta de?


Final de semana passado – dia 26/04 para ser mais exata – se deu início minha tão sonhada especialização. A alegria de voltar para uma sala de aula, voltar a aprender, voltar a estudar é simplesmente imensa. As expectativas, lógico, são tão imensas quanto. Na verdade é uma cadeia de expectativas: quando se está no Ensino Fundamental o pessoal do Ensino Médio é super descolado. Quando se está no Ensino Médio, a galera da faculdade é mega independente. Quando se está na faculdade os alunos da pós são super estudiosos...quando terminar a pós escrevo sobre qual será a impressão dos mestrandos. Enfim, as aulas foram deliciosas, em especial a aula de sábado, cheia de discussões extremamente pertinentes ao profissional da Educação.

Antes de escrever sobre o que realmente me chamou atenção, quero salientar que a postura dos acadêmicos de licenciaturas (nunca tive aula com outros) me entristece. Tanto na aula de sexta quanto na de sábado a conversa paralela – o famoso ti-ti-ti – foi simplesmente gigante. Foi suficiente pra me deixar constrangida mediante os professores pelo desrespeito da turma. É uma postura indesculpável para qualquer acadêmico, mas para uma turma de, em sua grande maioria, professores, a situação chega a ser surreal.

Mas voltando ao assunto, em um dado momento em uma discussão no sábado entrou em questão a relação Escola X Família, e algumas colocações foram, na minha humilde opinião, bem preocupantes. A maioria esmagadora de educadores (principalmente da educação infantil) simplesmente estabeleceram que o problema da educação das crianças com dificuldade de limites, concentração, foco ou o que quer que seja é a falta da participação dos pais na escola. Não quero dizer que discordando dessa afirmação concordo com evasão dos pais do ambiente escolar, mas sim que como é uma situação que foge do controle da escola, o olhar precisa ter outro enfoque: o que eu, em minha prática docente, tenho feito interessar, cada vez mais, o educando?

Ninguém, absolutamente nenhuma das pessoas falou da sua prática, de questionamentos e avaliações pessoais, de dúvidas ou incertezas, de pesquisas e estudos. Tudo isso permeia a prática pedagógica. Quando um educador para de questionar a sua própria prática e cai em um conformismo de que o aluno “dá trabalho” por problemas externos e não há nada que ele possa fazer, a possibilidade da educação desencadear uma falência sem volta é muito grande.

Eu espero do fundo do meu coração enxergar, no decorrer das aulas, uma mudança de concepção nesse sentido. Eu espero nas conversas, discussões, debates e seminários, ver uma postura com mais autocrítica e responsabilidade dos colegas. Eu espero poder generalizar ao falar que o professor é um formador de opinião, pesquisador e produtor de conhecimento.

A educação é um direito garantido a todos. Mas o aprendizado quem tem a obrigação de oferecer e mediar é o professor que está em sala de aula por um motivo: não é para ficar rico, não é para ter status, não é para ser popular...é porque AMA sua missão e a leva consigo da maneira mais séria e comprometida possível.
Eu espero ver essa mudança de comportamento começando pelo respeito ao espaço em que somos privilegiados por ter acesso. Um espaço de extrema troca de experiências e crescimento profissional. Um espaço de amadurecimento e evolução, onde o foco deve ser aprender sempre, e cada vez mais.

Por hoje é isso. Tenho outros tópicos em mente, mas os abordarei semanalmente. A beleza de voltar a estudar é que a cabeça volta a funcionar mais e mais e mais...nada se acomoda ou atrofia. Delícia!