sexta-feira, 28 de março de 2014

Lavar a roupa, sinônimo de cala a boca!

Minha postagem da semana seria sobre o trágico fato ocorrido na UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina, envolvendo a polícia federal e um grupo da comunidade acadêmica. No entanto, essa mesma discussão me trouxe ao tópico escolhido: O machismo, essa cultura endêmica e que por vezes parece intransponível. Não, minha gente, não é clichê.

Um amigo postou em sua timeline no Facebook um comentário sobre o acontecido, eu postei minha opinião, discordamos de maneira amistosa e tranquila, citando Voltaire

No mesmo instante, outra pessoa entrou na conversa de maneira agressiva, falando que quem estava defendendo os estudantes "era tudo vagabundo e maconheiro", e que a polícia tinha mais é que "descer o cacete". Eu, como pessoa educada que sou, não respondi no mesmo tom e continuei a conversa expondo a minha opinião, postando vídeos e notícias sobre o acontecido...etc. 

Uma quarta pessoa entrou na conversa manifestando sua desconfiança quanto ao acontecido, dizendo que queria ter estado lá para opinar com propriedade, mas que acha a discussão válida. 

Meu esposo, como defensor fervoroso da desmilitarização da polícia, trouxe suas opiniões que tampouco foram respeitadas pelo rapaz dos termos pejorativos. 

Despedi-me do tópico para não perder as estribeiras, mas não consegui sair com o surgimento de uma sexta pessoa. Sua entrada na conversa foi da seguinte maneira: "Diego chiquinho.tu só podia ser colorido mesmo. Deve ser do mesmo naipe destes maconheiros disfarçado de estudante , tirando lugar de quem quer estudar. Porrada neles! ! Vagabundos!!!"

E a sequência foi um espetáculo de preconceito e ignorância. O post seguinte dessa sexta pessoa foi: "Tali ventura. Vai lavar uma roupa faz favor."

Pasmei. Não consegui responder. 

Meu esposo, cujo nome no Facebook é Diego Chiquinho, fez dois posts seguidos:

·         “Como diria a Daenerys Targaryen: "Me chamar de mulher deveria ser uma ofensa? Eu responderia na mesma moeda se o considerasse um homem"”;
·         "Talvez possamos levar o comentário machista e a curtida para a delegacia de crimes digitais. Já que amam tanto a policia, podem receber uma visita dela. Seria um dia memorável pra vcs."



Depois disso o rapaz dos termos pejorativos apagou TODOS os seus posts no tópico, e eu, de maneira fraca e instintiva respondi de maneira grosseira o comentário machista... E a coisa definitivamente descambou. 

Fiquei culpando e criticando a mim mesmo: “Deveria ter ficado quieta, pra quê responder no mesmo nível? Pra quê se expor dessa maneira? Por que não guardar a língua bem dentro da boca? Pra que causar desconforto em uma timeline que nem é sua??????

Ao mesmo tempo chacoalhei a cabeça e pensei: “O que é isso mulher, tá doida é?” Se fizesse isso, qual seria a diferença entre a minha atitude e a da mulher que é espancada e não denuncia o parceiro? Que é “encoxada” no ônibus/metrô, mas guarda pra si por vergonha? Que é subjulgada e internaliza, achando que ela é a causadora de todos os males do mundo? NENHUMA!


Triste. Triste. Triste. 



Dificilmente perco as estribeiras em um debate, sempre direcionando-o para os fatos em questão. Mas fui ofendida de maneira tão baixa e asquerosa que não consegui. Sou cheia de fraquezas, assim como qualquer ser humano, e a diminuição da minha condição enquanto mulher com certeza é uma delas, talvez, até, a mais forte. 

Queria transcrever todo o debate aqui, no entanto, com posts apagados, o sentido se perde. 

Mas queria, especialmente com esse post, socializar a minha indignação com esse machismo infindável que assola nossa sociedade, onde um homem que não consegue (ou não quer) argumentar com uma mulher que, claramente, é mais esclarecida que ele e por isso o deixa sem argumentos, a manda "lavar a roupa" como uma espécie de "cala a boca".

Pois digo que SIM, lavo muita roupa, esquento a barriga no fogão, dirijo a vassoura na faxina, etc etc etc...e ao mesmo tempo ocupo um excelente cargo na empresa em que trabalho tendo meu salário equiparado ao de muito barbado por aí, curso, com imensa alegria, minha especialização, me dedico ao meu esposo que é um dos homens mais gentis e doces que conheci em toda minha vida, e tem uma briga travada contra toda a nojeira que permeia qualquer tipo de preconceito dessa nossa sociedade doente. Dedico-me ao meu blog como forma de expressão e comunicação. Sou multifuncional, com muito orgulho. 

Então não venha vomitar seu machismo pra cima de mim!

E quero também me retratar com o meu querido amigo, cujo post e perfil foram invadidos por uma discussão baixa e mal educada da qual participei. Jamais foi minha intenção. Realmente sinto muito. 

Termino, então, a noite de hoje, quase 2h da manhã, com a sensação de que a sociedade não evolui, a cultura não muda, e que a mulher - ao contrário do que venho tentando me convencer - está muito longe de ser respeitada quando resolve ter voz.  


3 comentários :

  1. Tali, cada dia mais fico pasma, assim como tu. Tá tudo errado,a bestialidade humana não tem fim e cada dia mais aquele sentimento de "só começando de novo, só começando de novo"...

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  2. Nem me fale. É o que sempre discutimos. O machismo é endêmico na nossa sociedade. Está cada vez mais intransponível, e quando tentamos quebrar esse vínculos somos "apedrejadas" com os verbetes mais baixos.

    Ontem ainda estava assistindo "Clube dos 5", super antigo, né? Mas em um dado momento em que os adolescentes estão conversando uma delas faz uma pintura exata da nossa sociedade: ela disse que não há alternativa, se uma garota diz que nunca transou é pudica...e se já transou é vadia. É bem por aí. Enquanto eu estava sendo chamada de maconheira e o cara estava me mandando lavar roupa, ok. Quando eu falei que sua necessidade de denegrir a imagem de uma mulher era falta de confiança nas suas bolas, foi um "óóóóóóó que falta de respeito"...

    Que nojo!

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