sábado, 22 de março de 2014

"Era só mais uma...Cláudia!"

Não quero, de verdade, ser sensacionalista ao escrever, por isso colocarei a minha mais profunda reflexão em pauta.

Desde as manifestações de Junho/13 venho narrando os excessos da polícia militar que presenciei ou que apenas me fiz sabedora, no entanto, não tenho base teórica para discursar sobre isso, não conheço a corporação, não sei de suas ideologias, não tenho como medir se os bandidos de farda são maioria ou, talvez, uma minoria que se destaca...

No entanto, não posso e nem devo, como cidadã, usar dessa ignorância para calar a angústia que sinto cada vez que é noticiado algo grotesco e violento envolvendo esta corporação. É claro que, com isso, falo do que todo mundo já falou essa semana: o caso de Cláudia da Silva Ferreira, uma mulher negra, pobre, trabalhadora e moradora de periferia. Convenhamos: dos quatro adjetivos usados para descrevê-la, três deles – no mínimo – se encaixam em muitos perfis “socorridos” pela polícia militar.

Confesso, não assisti ao vídeo postado milhares de vezes, onde aparecia Cláudia sendo arrastada. Não consegui. Não consegui. Não consegui!!! É uma coisa tão (...) – não encontro uma palavra sequer que defina – que foi além dos meus limites.

Justamente por isso me pergunto como alguém pode ter uma atitude dessa: atentem, se uma pessoa não consegue nem assistir um vídeo de tão grotesco o fato, como pessoas conseguem executar o tal fato.

O assassinato (não, não tem outro nome) de Cláudia foi só mais um em um mar de sangue que banha a corporação supracitada. E a justificativa da prisão: foram presos por SOCORRER A VÍTIMA! Isso, certamente, é subestimar a inteligência das pessoas. Sabe a impressão que dá? Que a polícia militar é a instrumentalização da “higienização social” almejada pelos cartolas/magnatas/políticos do Brasil para mostrar um país que não existe no Mundial que está quase chegando.

Ainda por cima, como se tudo isso não bastasse, li um post da página Geração Incrível, no Facebook, onde a chamada de atenção é a desumanização dessas vítimas.

                               “Mulher arrastada, mulher arrastada, mulher, mulher, moradora, moradora, moradora, morta, morta, arrastada, arrastada, arrastada, arrastada. Filha de arrastada, enterro de arrastada, viúvo de mulher, mulher arrastada.

A mulher tem nome, tem identidade, tem família, tem história... A maneira que Cláudia é citada – assim como tantos outros – já deixa claro o quanto essa violência institucionalizada está se tornando comum, corriqueira... Triste!

O mais triste ainda é que os casos que são noticiados com tanto fervor – e, por que não, sensacionalismo – são apenas os que, por “descuido ou coincidência infeliz”, vazam do silêncio e da sordidez. Um exemplo foi o caso do pedreiro Amarildo. Por que foi tão investigado? Porque de alguma forma ele se tornou expressivo em meio a um período fervoroso de reivindicações, e ficou internacionalmente famoso. Ou seja, foi uma pressão mundial pra descobrir onde estava o homem que era pobre, negro, morador de periferia e, adivinhem? Foi assassinado pela polícia.

Se Cláudia não tivesse sido filmada, POR ACASO, sendo arrastada da maneira que foi, esse fato escabroso teria chegado a mídia? O depoimento da família, afirmando que ela foi assassinada, teria sido levado em consideração? A família teria se quer sido ouvida? Quantas Cláudias e Amarildos são vítimas TODOS OS DIAS? Quando isso terá fim?

Só para encerrar, um curto relato: estivemos, meu esposo e eu, de férias em Montevideo – Uruguai no início do ano. Estávamos tomando chimarrão em uma praça quando vimos duas mulheres, também tomando chimarrão, de farda. Olhamos-nos e falamos: “não é possível que sejam policiais”. E eram. Com as bicicletas encostadas nas árvores, fazendo policiamento. Um lugar em que nos sentimos mais seguros do que qualquer outro que tenhamos frequentado/morado/conhecido no Brasil.

Violência gera violência. E quando essa violência é representada por uma instituição pública, altamente armada, com aval do governo e cobertura da mídia para sustentar suas barbáries, não consigo imaginar quantas Cláudias ainda estão por vir, que serão veladas dolorosamente e enterradas na indulgência da justiça.






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