Durante a semana vimos, mais uma vez, as tragédias causadas
pelas chuvas em Petrópolis. Mais uma vez muitas mortes, mais uma vez muita
gente sofrendo, mais uma vez famílias dizimadas, e o pior de tudo isso: mais
uma vez as autoridades jogando a culpa igual peteca para ver quem deixa cair.
É um descaso total com a dor das pessoas e uma prova cabal
de que está muito longe de tudo isso mudar.
Hoje, assistindo uma reportagem sobre o assunto, vi um
prefeito jogando a culpa no Estado e na União e, em contra partida, o
secretário do meio ambiente empurrando o assunto para a prefeitura. A ÚNICA
concordância dos dois foi a seguinte afirmação: A culpa, em grande parte, é das
pessoas que estão lá.
NÃO É.
As pessoas estão erradas em voltar para as suas casas em
situação de risco? Estão, claro. Mas a indagação tem que ir mais longe. A real
questão nisso tudo é: O que o poder público faz para dar o respaldo que essas
pessoas precisam para recomeçar a vida? NADA.
Conheço muito bem a situação. Apesar de, graças a Deus,
nunca ter sido vítima direta de catástrofes dessa natureza, eu morava em
Blumenau em Novembro de 2008, quando o Vale do Itajaí foi vitimado por uma
tragédia nunca antes vista em Santa Catarina.
As coisas foram acontecendo muito mais rápido do que
conseguíamos entender e quando nos demos conta percebemos que muitas
localidades foram atingidas por desabamentos, centenas de pessoas estavam
desabrigadas, o abastecimento de água da cidade estava suspenso porque as
estações de tratamento foram atingidas por desabamentos ou enchentes (ou os
dois), e o caos estava instituído.
Reconheço aqui o desmedido empenho da Defesa Civil, do Corpo
de Bombeiros e da Cruz Vermelha, assim como o apoio imediato dos estados do
Paraná e Rio Grande do Sul, seguidos do Brasil todo. Eu e minha mãe dávamos
aula em uma ONG situada em um dos bairros mais afetados, e assim que pudermos
sair de casa (as pessoas ficaram quatro dias proibidas de sair de casa a não
ser por uma emergência, para evitar maiores desgraças) fomos ver como a
situação estava. Acabamos auxiliando da forma que conseguimos, mas o maior
auxílio foi de uma equipe militar de Curitiba que incansavelmente cuidavam do
abrigo garantindo a segurança e, acima de tudo, o companheirismo e a
solidariedade a todos aqueles que precisavam.
Narrei tudo isso para ilustrar que o que cabia aos civis,
por assim dizer, foi feito. Adivinha o que falhou? O auxílio do poder público.
Quase dois anos depois ainda existiam pessoas morando em
abrigos ou em casa de familiares, sem receber nenhum tipo de subsídio ou apoio
do governo. Muitas pessoas foram remanejadas sem nenhum planejamento para
condomínios construídos para esse fim, ocasionando, por exemplo, uma superlotação
nas escolas mais próximas e uma queda considerável na qualidade de ensino. Algumas
(muitas, na verdade) pessoas acabaram voltando para as suas casas mesmo sabendo
do grande risco corrido, pelo simples fato de ficarem esquecidas depois que o
evento deixou de ser notícia.
Tudo isso veio à tona hoje quando assisti, com grande repulsa,
a politicagem de duas pessoas (prefeito e secretário) que não tem a mínima
ideia do que é a dor de passar por traumas tão grandes.
Não quero afirmar aqui que a população de forma geral é
imune de responsabilidades. Não é. Constrói-se em encostas, se desrespeita
determinação de Defesa Civil, etc., etc., etc. Mas onde está a fiscalização da
secretaria de obras das cidades? Na reportagem que impulsionou o post de hoje
vi um professor que coordena um estudo nos solos de Petrópolis há quatro anos.
Como, COMO nada pode ter sido feito em todo esse tempo?
Vi um homem ser entrevistado, homem esse que teve sua foto
circulando nas redes sociais essa semana por já estar em Petrópolis há muitos
anos atrás em outra tragédia. Ele estava lá, no mesmo lugar, vendo as mesmas
calamidades. Na época tinha só vinte anos, mas agora perdeu a filha e os netos.
Com a voz embargada contou: “os filhos acham que a gente é herói, mas numa hora
dessas a gente vê que é tão pequeno”...
Quando o Brasil terá uma política efetiva de prevenção para
desastres naturais? Quando especialistas começarão a ser ouvidos ao invés de
políticos sem nenhuma instrução ou propriedade sobre o assunto? Quando
moradores de locais como a região serrana do Rio de Janeiro, o Vale do Itajaí,
a cidade de São Paulo e diversas cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo
poderão ficar tranquilos na temporada das chuvas? Quando os agricultores
deixarão de sofrer em decorrência da falta de investimento e planejamento nas
estiagens mais severas? Quando o Nordeste e o Centro-oeste deixarão de se
preocupar com as queimadas que são, além de tudo, extremamente prejudiciais
para o meio ambiente de forma geral?
Enquanto todas essas perguntas não tiverem uma resposta
objetiva o país continuará assistindo (alguns, inclusive, de camarote) o seu
povo sofrer desmedidamente, e tendo esse sofrimento cada vez mais espezinhado
por não vislumbrar, de maneira alguma, uma mudança no roteiro desse filme de
terror.
Isso aí Tali.... estamos sem respostas... sem mudanças... largados a própria sorte....
ResponderExcluirBeijos Kathy
Pra variar né...
ResponderExcluirBeijos mil =D