sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Uma réstia de luz...

Essa semana uma amiga me marcou em um vídeo que está rolando na rede. Joguei o nome da pessoa que o protagoniza – Eduardo Marinho – no Google e o primeiro link que aparece já traz a seguinte informação: filósofo de rua. Já gostei!

Transcrevo alguns trechos do que ele falou porque são coisas que tenho – há bastante tempo – pensado muito, mas muito mesmo.

Já começa bem: “Se você buscar um prazer em viver você já está sendo revolucionário, se você não aceitar um trabalho que te sacrifique você já está sendo revolucionário, se você conseguir criar seus valores você está sendo um super revolucionário”. É tipo aquela frase de George Orwell que fala que “Em tempos de embustes universais, dizer a verdade se torna um ato revolucionário”.

Momentos depois ele – o filosofo de rua – fala o seguinte: “Eu ganhei uma paz enorme quando eu disse: “não quero vencer na vida, eu quero viver”. Essa ideia de vencer na vida é um inferno, coloca meus irmãos como meus adversários, meus inimigos. Existem atitudes melhores do que atitudes, ideias melhores que ideias, mas pessoas melhores que pessoas não tem”.

E quase ao fim ele diz que “Se eu tive acesso a uma universidade e a conhecimentos que são negados a uma maioria eu tenho uma dívida com essa maioria, e não um sentimento de superioridade”.

Independente de quem ele é ou de onde ele veio, só pelo fato de ter sido o proclamador dessas ideias já tem minha atenção. Como preciso, como sinto necessidade de ouvir mais discursos assim. Como falta na vida alguém que entenda que a sociedade precisa de mais humanidade. Como faltam no mundo pessoas que pisem um pouquinho no freio das questões econômicas e enfiem o pé no acelerador das questões sociais. Pessoas não são números nem estatísticas. Pessoas são pessoas. Pessoas precisam viver.

Como falta alguém que mude o discurso de “o Brasil está em crise agora porque ficou sustentando vagabundo com o dinheiro de quem trabalha, e o dinheiro acabou” para “que bom que durante mais de uma década foi olhado para uma grande parcela marginalizada da população e hoje, apesar da crise, eles começaram a ter oportunidade de ajudar a construir um país menos desigual”.

Há algum tempo um querido ex-professor e eterno amigo indicou-me um documentário chamado Human, disse que eu tinha que assistir. Nem questionei, fui direto. Bendita hora que lhe dei ouvidos. Assisti a todos os volumes (I, II e III), um atrás do outro. Chorei muito, me emocionei, fiquei imensamente grata em ver pessoas que ultrapassaram – ou ultrapassam – adversidades inimagináveis falando sobre o amor, o perdão, a luta contra o racismo, o espaço do feminismo, valores que eu acredito tanto, mas que vejo o tempo todo tão ameaçados. 

Não tem como elencar quais depoimentos foram mais contundentes, mas talvez um dos que mais caibam aqui – nesse contexto específico que talvez, para alguns, seja verborrágico –  seja o do querido e admirável José Mojica, qual transcrevo um pedacito: “Inventamos uma montanha de consumos supérfluos. Compra-se e descarta-se, mas o que se gasta é tempo de vida. Quando compro algo, ou você compra, não pagamos com dinheiro mas sim com tempo de vida que tivemos que gastar para ter esse dinheiro. Mas tem um detalhe: tudo se compra, menos vida. A vida se gasta. E é lamentável desperdiçar a vida para perder a liberdade”.

O que falo aqui transcende qualquer pensamento ou posicionamento político e está muito além do voto, da escolha, da concepção partidária. Falo de uma sociedade em que escolas são fechadas porque claramente, sob a ótica de quem as fecha, a educação de maneira geral é um prejuízo. Falo aqui de uma sociedade tão desumana a ponto da ambição e da ganância serem responsáveis por desastres de proporções inimagináveis como foi o último, em Mariana. Catástrofes de proporções imensuráveis, assim como é, por exemplo, o desmatamento da Amazônia. Falo aqui de uma sociedade que admite pessoas que escrevem na porta de um banheiro de universidade que “na vida não tem cotas, lá fora você será só mais um escravo”. Uma sociedade negadora de direitos, que mata o pobre metafórica e/ou literalmente todos os dias, que tem sede de seletividade. Uma sociedade que quando tem seus privilégios ameaçados se torna violenta, agressiva, sanguinária. Uma sociedade que continua, independente de quantas conquistas tenhamos, vendo a mulher como menor, como inferior, como prêmio ou castigo, como adereço. Uma sociedade que não legitima o amor se ele não for concebido de maneira tradicional, e porque não legitima lhe nega direitos básicos como o de se constituir uma família. Uma sociedade que minimiza a gravidade e o impacto do estupro.

Mas frente a tudo isso vejo uma luz, por mais que seja uma réstia, ao fim do túnel. Vejo meninas na escola falando de feminismo, empoderando a si, suas mães, professoras. Rompendo barreiras que hoje, aos trinta anos, ainda luto para romper. Vejo a democratização da informação, o que há tempos atrás era totalmente restrito. Ficávamos reféns do que as emissoras – mergulhadas em seus interesses – noticiavam, enquanto agora qualquer pessoa com um celular na mão pode mostrar a verdade de uma situação. Vejo uma juventude engajada, preocupada, atuante, mobilizada e isso, isso é a força de mudança que precisamos.


Vejo essa luz também porque, no fim das contas, apesar de reclamona sou otimista. É por isso que escrevo!



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