Minha
postagem da semana seria sobre o trágico fato ocorrido na UFSC - Universidade
Federal de Santa Catarina, envolvendo a polícia federal e um grupo da
comunidade acadêmica. No entanto, essa mesma discussão me trouxe ao tópico
escolhido: O machismo, essa cultura endêmica e que por vezes parece
intransponível. Não, minha gente, não é clichê.
Um
amigo postou em sua timeline no Facebook um comentário sobre o acontecido, eu postei minha opinião,
discordamos de maneira amistosa e tranquila, citando Voltaire.
No
mesmo instante, outra pessoa entrou na conversa de maneira agressiva, falando
que quem estava defendendo os estudantes "era tudo vagabundo e
maconheiro", e que a polícia tinha mais é que "descer o cacete".
Eu, como pessoa educada que sou, não respondi no mesmo tom e continuei a
conversa expondo a minha opinião, postando vídeos e notícias sobre o
acontecido...etc.
Uma
quarta pessoa entrou na conversa manifestando sua desconfiança quanto ao
acontecido, dizendo que queria ter estado lá para opinar com propriedade, mas
que acha a discussão válida.
Meu
esposo, como defensor fervoroso da desmilitarização da polícia, trouxe suas
opiniões que tampouco foram respeitadas pelo rapaz dos termos
pejorativos.
Despedi-me
do tópico para não perder as estribeiras, mas não consegui sair com o
surgimento de uma sexta pessoa. Sua entrada na conversa foi da seguinte
maneira: "Diego
chiquinho.tu só podia ser colorido mesmo. Deve ser do mesmo naipe destes
maconheiros disfarçado de estudante , tirando lugar de quem quer estudar.
Porrada neles! ! Vagabundos!!!"
E a sequência foi um
espetáculo de preconceito e ignorância. O post seguinte dessa sexta pessoa foi:
"Tali ventura. Vai lavar uma roupa faz favor."
Pasmei. Não consegui
responder.
Meu esposo, cujo nome no
Facebook é Diego Chiquinho, fez dois posts seguidos:
·
“Como
diria a Daenerys Targaryen: "Me chamar de mulher deveria ser uma ofensa?
Eu responderia na mesma moeda se o considerasse um homem"”;
·
"Talvez
possamos levar o comentário machista e a curtida para a delegacia de crimes
digitais. Já que amam tanto a policia, podem receber uma visita dela. Seria um
dia memorável pra vcs."
Depois disso o rapaz dos
termos pejorativos apagou TODOS os seus posts no tópico, e eu, de maneira fraca
e instintiva respondi de maneira grosseira o comentário machista... E a coisa
definitivamente descambou.
Fiquei culpando e criticando
a mim mesmo: “Deveria ter ficado quieta, pra quê responder no mesmo nível? Pra quê
se expor dessa maneira? Por que não guardar a língua bem dentro
da boca? Pra que causar desconforto em uma timeline que nem é sua??????
Ao
mesmo tempo chacoalhei a cabeça e pensei: “O que é isso mulher, tá doida é?” Se
fizesse isso, qual seria a diferença entre a minha atitude e a da mulher que é
espancada e não denuncia o parceiro? Que é “encoxada” no ônibus/metrô, mas
guarda pra si por vergonha? Que é subjulgada e internaliza, achando que ela é a
causadora de todos os males do mundo? NENHUMA!
Triste. Triste. Triste.
Dificilmente perco as
estribeiras em um debate, sempre direcionando-o para os fatos em questão. Mas
fui ofendida de maneira tão baixa e asquerosa que não consegui. Sou cheia de
fraquezas, assim como qualquer ser humano, e a diminuição da minha condição
enquanto mulher com certeza é uma delas, talvez, até, a mais forte.
Queria transcrever todo o
debate aqui, no entanto, com posts apagados, o sentido se perde.
Mas queria, especialmente
com esse post, socializar a minha indignação com esse machismo infindável que
assola nossa sociedade, onde um homem que não consegue (ou não quer) argumentar
com uma mulher que, claramente, é mais esclarecida que ele e por isso o deixa
sem argumentos, a manda "lavar a roupa" como uma espécie de
"cala a boca".
Pois digo que SIM, lavo
muita roupa, esquento a barriga no fogão, dirijo a vassoura na faxina, etc etc
etc...e ao mesmo tempo ocupo um excelente cargo na empresa em que trabalho
tendo meu salário equiparado ao de muito barbado por aí, curso, com imensa
alegria, minha especialização, me dedico ao meu esposo que é um dos homens mais
gentis e doces que conheci em toda minha vida, e tem uma briga travada contra
toda a nojeira que permeia qualquer tipo de preconceito dessa nossa sociedade
doente. Dedico-me ao meu blog como forma de expressão e comunicação. Sou multifuncional,
com muito orgulho.
Então não venha vomitar
seu machismo pra cima de mim!
E quero também me retratar
com o meu querido amigo, cujo post e perfil foram invadidos por uma discussão baixa
e mal educada da qual participei. Jamais foi minha intenção. Realmente sinto
muito.
Termino, então, a noite de
hoje, quase 2h da manhã, com a sensação de que a sociedade não evolui, a
cultura não muda, e que a mulher - ao contrário do que venho tentando me
convencer - está muito longe de ser respeitada quando resolve ter voz.