segunda-feira, 10 de junho de 2013

Feliz dia dos...namorados!

Esse é, talvez, o post mais difícil de escrever até hoje. São 7:36 da manhã, perdi o sono e estou tentando fazê-lo desde as 6:30. Escrevi um monte, e quando li estava muito longe do que eu realmente queria escrever. Comecei tudo de novo. Agora vamos ver se vai...

Com o dia dos namorados chegando fiquei muito tentada a escrever sobre uma questão complicadíssima por ser extremamente delicada e difícil: a crise dos relacionamentos. Aí quem lê pode pensar: “que nada...grande coisa, qualquer um pode falar de começos e términos de namoros e casamentos...”. É difícil escrever porque o foco não é esse. O foco é o relacionamento de forma muito mais ampla, o relacionamento da humanidade com ela própria.

Nas aulas da pós é muito comum os professores abordarem a crise de paradigmas que estamos vivendo, e eu, particularmente, acredito que a crise de relacionamentos é a grande responsável: explico. Há algum tempo não dou aula. Trabalho no comércio em um grande shopping e observo o desespero das pessoas perto de datas como dia dos namorados, dia das mães, Natal... Muitas vezes estão até de mau humor comprando os presentes, porque simplesmente não querem estar ali, é pura e simplesmente uma obrigação imposta pela sociedade de modo geral.

Quando observo isso fico me perguntado: onde estão as manifestações singelas, gratuitas e sinceras de amor? Causa-me estranheza ver, por exemplo, um filho que trata sua mãe com indiferença bater perna no shopping para encontrar um presente. Assim como uma pessoa que tem uma relação estagnada correr atrás de presente para o dia dos namorados, pais ausentes enchendo o filho de presentes no dia das crianças, pessoas com listas imensas de presentes de Natal para outras que elas não tem a menor afinidade...

Essa crise que se estabelece de forma sutil e traiçoeira atinge esferas inimagináveis. Digo isso porque hoje a política e a sociedade vivem, quem sabe, o ápice da crise do seu relacionamento. Vejo uma parcela cada vez maior da sociedade insatisfeita com a negligência da política para com a população. Negligência essa que coloca mais lenha na fogueira de outras crises: a crise do doente com o SUS, do professor/aluno com o ensino público, da população em geral com a segurança...os relacionamentos estão em colapso, e em meio a uma rede de crises cresce cada vez mais um mediador bastante negativo que, ao invés de colaborar para que caminhemos em direção ao “felizes para sempre”, faz questão de cultuar o “ninguém sabe, ninguém viu”: a mídia.

Um exemplo: semana passada eu e meu esposo, como fãs incondicionais da Legião Urbana, fomos assistir ao filme “Faroeste Caboclo”. Como tínhamos visto o trailer já baixamos nossa expectativa pra decepção não ser tão grande. Mas foi. Considerando a riqueza da música e todo o contexto político que a permeia, o filme poderia ter sido riquíssimo, uma crítica social digna de Adorno. Mas não, foi um filme de elenco global que frisou, como não poderia deixar de ser, a balada de Brasília, o uso de drogas em demasia e a banalização do sexo. Não que a música não tenha isso, mas toda a riqueza política foi posta de lado. Toda a crise de relação do protagonista com a sociedade foi varrida pra debaixo do tapete e um dos maiores clássicos dos anos 80 virou produto da tela grande pra vender bilheteria. É que a realidade de quase trinta anos atrás ainda é a mesma, e ela ainda incomoda.

Um dos maiores problemas da sociedade hoje é a preocupação generalizada com a dependência química, que se espalha como fogo na pólvora. Essa dependência, a meu ver, é um produto também de uma crise de relacionamento. É uma crise, quem sabe, mais pontual, pois se dá com o indivíduo em crise com ele mesmo, no entanto tem como catalizador algum tipo de caos: ou na família, ou na (falta de) aceitação da sociedade, em uma dificuldade de se enquadrar em determinado grupo...enfim, principalmente na adolescência ela explode e é difícil contê-la. Por isso, enquanto os dependentes químicos forem tratados como marginais e depositados em celas carcerárias, o quadro continuará aumentando. O poder judiciário tem alcance até onde a lei pode ir. A crise de relacionamentos entre pessoas com pessoas, pessoas com sociedade e pessoas com elas mesmas jamais poderá ser sanada com uma sentença.

Ainda não sei se consegui expressar o que eu queria quando me propus a escrever sobre a crise nos relacionamentos, porque é difícil articular um assunto que tem tantas ramificações e, principalmente, tantas causas. Mas depois de só problematizar espera-se que se aponte uma solução, não é?! Porque afinal, a crítica só é construtiva se seguida de uma sugestão. Pois bem, a essa altura não sei o que dizer.

Sou utópica, graças a Deus, e acredito que a resposta para a crise esteja no retorno às origens. Edgar Morin em seu livro “a minha esquerda”¹ diz que é preciso conservar para revolucionar e revolucionar para conservar. Acredito numa recuperação de valores, de respeito, de afetividade, de sinceridade...de mais demonstrações e menos consumo, de mais solidariedade e menos austeridade, de mais coletivismo e menos individualismo, que as relações voltem a ser qualificadas e deixem de ser quantificadas...de uma democracia real, e não camuflada pela política politiqueira e a mídia que a sustenta.

Eu acredito que as pessoas voltarão a ser felizes com a simplicidade, que o vazio e muitas vezes a solidão que a modernidade e a autonomia trouxeram será preenchido não mais com drogas ou dinheiro, mas com a felicidade – mas essa cada um precisa descobrir a sua.

E já que foi citada, fica uma das melhores músicas já compostas. Faroeste Caboclo retrata toda a crise de relacionamento de um homem com ele mesmo, com as pessoas e com a sociedade...



¹ MORIN, Edgar. a minha esquerda. Porto Alegre: Sulina, 2011. 



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