segunda-feira, 5 de julho de 2010

Um país em fúria!

Não tinha como deixar de escrever sobre a copa, não é?!



Pois bem, vamos lá. Mas não quero escrever sobre as seleções, técnicos, jogadores, convocações, etc., etc., etc. Quaro falar de tolerância, espírito esportivo, compreensão, coletividade. Alguém acha que uma coisa não tem relação com a outra? Pois mostrarei que estão intrinsecamente ligadas.



Os professores e acadêmicos – não só de Letras, mas de qualquer curso da área da Educação – que já estudaram, entre vários autores, Vygotsky, sabem que uma parte importantíssima da Educação de modo geral e principalmente da Infantil é o “educar brincando”, o tão famoso lúdico. Através dele a educação se torna mais divertida e proveitosa, o que possibilita o professor ser mais eficaz em seu trabalho. Além disso, através de jogos, gincanas, competições em geral, o professor pode – e deve – trabalhar noções de coletividade, de competição saudável e honesta, de espírito esportivo, além de uma das coisas mais importantes e que hoje é tão falha: a possibilidade de lidar bem com frustrações, derrotas, o tão famoso “você não conseguiu agora, mas pode tentar de novo”. Enfim, noções que teoricamente deveriam ser trabalhadas, no entanto, a sociedade é um reflexo de que isso não acontece.



Comecei o texto falando da copa porque essa semana o que vi em vários noticiários me deixou escandalizada. A seleção, como todos sabem, foi desclassificada nas quartas de final da Copa do Mundo da África do Sul. Ficou entre as oito melhores seleções do mundo, e ao voltar pra casa encontra um país voltado contra si. Os jogadores, ao chegar em determinadas cidades, tiveram que fugir, literalmente, de uma população enfurecida. Alguns, mesmo já estando em seus carros, foram agredidos verbalmente o tempo todo. Como se não bastasse, hoje assistindo um jornal local vi a seguinte enquete: “Quem foi o responsável pela desclassificação da seleção brasileira? Para votar no Dunga ligue para determinado número, para votar nos jogadores ligue para determinado número.” Ou seja, como se não bastasse uma população indignada, uma imprensa sensacionalista determina que as pessoas precisam ter raiva de alguém: ou do técnico, ou dos jogadores. Em momento algum foi dito que a seleção que ganhou era melhor, se esforçou mais e por isso teve melhor resultado, que daqui quatro anos pode-se tentar novamente, que se deve aprender com os erros e corrigi-los para uma próxima vez, enfim, lições importantíssimas que se mostraram totalmente ausentes.



Com isso alguém vem me perguntar: mas desde quando a educação é responsável por uma sociedade sem espírito esportivo e que não sabe lidar com frustração? E eu respondo que desde SEMPRE. Nós, professores, temos que formar nossos alunos para toda e qualquer adversidade, e que eles enfrentem a mesma com dignidade e senso de justiça consigo e com os outros. Além disso, precisamos formá-los para que sejam críticos e saibam, como Sócrates, usar a tática das três peneiras, ou seja, “peneirar”, filtrar o que escutam nos jornais, programas em geral, nas revistas e até mesmo na própria escola, e construir uma opinião sobre tudo. Se isso começar finalmente a acontecer, no futuro teremos uma sociedade menos manipulável e mais dona de suas verdades, onde a coletividade, a solidariedade, o reconhecimento do esforço alheio, enfim, valores estarão acima de um instinto puramente irracional.


Deixo uma foto para reflexão. Eis um homem com todas as qualidades que citei anteriormente. Que teve compaixão do seu algoz e se fortaleceu em uma experiência dura e sofrida para mudar um país. Tomara que ao menos algumas lições tenham sido agregadas com a Copa do Mundo na África do Sul, que tráz uma história de superação começada por Nelson Mandela e continuada, diariamente, pelo seu povo.





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