Essa semana uma amiga me marcou em um vídeo que está rolando
na rede. Joguei o nome da pessoa que o protagoniza – Eduardo Marinho – no Google
e o primeiro link que aparece já traz a seguinte informação: filósofo de rua.
Já gostei!
Transcrevo alguns trechos do que ele falou porque são coisas
que tenho – há bastante tempo – pensado muito, mas muito mesmo.
Já começa bem: “Se você buscar um prazer em viver você já
está sendo revolucionário, se você não aceitar um trabalho que te sacrifique
você já está sendo revolucionário, se você conseguir criar seus valores você
está sendo um super revolucionário”. É tipo aquela frase de George Orwell que
fala que “Em tempos de embustes universais, dizer a verdade se torna um ato
revolucionário”.
Momentos depois ele – o filosofo de rua – fala o seguinte: “Eu
ganhei uma paz enorme quando eu disse: “não quero vencer na vida, eu quero
viver”. Essa ideia de vencer na vida é um inferno, coloca meus irmãos como meus
adversários, meus inimigos. Existem atitudes melhores do que atitudes, ideias
melhores que ideias, mas pessoas melhores que pessoas não tem”.
E quase ao fim ele diz que “Se eu tive acesso a uma
universidade e a conhecimentos que são negados a uma maioria eu tenho uma
dívida com essa maioria, e não um sentimento de superioridade”.
Independente de quem ele é ou de onde ele veio, só pelo fato
de ter sido o proclamador dessas ideias já tem minha atenção. Como preciso,
como sinto necessidade de ouvir mais discursos assim. Como falta na vida alguém
que entenda que a sociedade precisa de mais humanidade. Como faltam no mundo
pessoas que pisem um pouquinho no freio das questões econômicas e
enfiem o pé no acelerador das questões sociais. Pessoas não são números nem
estatísticas. Pessoas são pessoas. Pessoas precisam viver.
Como falta alguém que mude o discurso de “o Brasil está em
crise agora porque ficou sustentando vagabundo com o dinheiro de quem trabalha,
e o dinheiro acabou” para “que bom que durante mais de uma década foi olhado
para uma grande parcela marginalizada da população e hoje, apesar da crise,
eles começaram a ter oportunidade de ajudar a construir um país menos desigual”.
Há algum tempo um querido ex-professor e eterno amigo
indicou-me um documentário chamado Human, disse que eu tinha que assistir. Nem
questionei, fui direto. Bendita hora que lhe dei ouvidos. Assisti a todos os
volumes (I, II e III), um atrás do outro. Chorei muito, me
emocionei, fiquei imensamente grata em ver pessoas que ultrapassaram – ou ultrapassam
– adversidades inimagináveis falando sobre o amor, o perdão, a luta contra o
racismo, o espaço do feminismo, valores que eu acredito tanto, mas que vejo o
tempo todo tão ameaçados.
Não tem como elencar quais depoimentos foram mais
contundentes, mas talvez um dos que mais caibam aqui – nesse contexto
específico que talvez, para alguns, seja verborrágico – seja o do querido e admirável José Mojica,
qual transcrevo um pedacito: “Inventamos uma montanha de consumos supérfluos.
Compra-se e descarta-se, mas o que se gasta é tempo de vida. Quando compro
algo, ou você compra, não pagamos com dinheiro mas sim com tempo de vida que
tivemos que gastar para ter esse dinheiro. Mas tem um detalhe: tudo se compra,
menos vida. A vida se gasta. E é lamentável desperdiçar a vida para perder a
liberdade”.
O que falo aqui transcende qualquer pensamento ou
posicionamento político e está muito além do voto, da escolha, da concepção
partidária. Falo de uma sociedade em que escolas são fechadas porque
claramente, sob a ótica de quem as fecha, a educação de maneira geral é um
prejuízo. Falo aqui de uma sociedade tão desumana a ponto da ambição e da
ganância serem responsáveis por desastres de proporções inimagináveis como foi
o último, em Mariana. Catástrofes de proporções imensuráveis, assim como é, por
exemplo, o desmatamento da Amazônia. Falo aqui de uma sociedade que admite pessoas
que escrevem na porta de um banheiro de universidade que “na vida não tem
cotas, lá fora você será só mais um escravo”. Uma sociedade negadora de
direitos, que mata o pobre metafórica e/ou literalmente todos os dias, que tem
sede de seletividade. Uma sociedade que quando tem seus privilégios ameaçados
se torna violenta, agressiva, sanguinária. Uma sociedade que continua, independente
de quantas conquistas tenhamos, vendo a mulher como menor, como inferior, como
prêmio ou castigo, como adereço. Uma sociedade que não legitima o amor se ele
não for concebido de maneira tradicional, e porque não legitima lhe nega
direitos básicos como o de se constituir uma família. Uma sociedade que
minimiza a gravidade e o impacto do estupro.
Mas frente a tudo isso vejo uma luz, por mais que seja uma
réstia, ao fim do túnel. Vejo meninas na escola falando de feminismo,
empoderando a si, suas mães, professoras. Rompendo barreiras que hoje, aos
trinta anos, ainda luto para romper. Vejo a democratização da informação, o que
há tempos atrás era totalmente restrito. Ficávamos reféns do que as emissoras –
mergulhadas em seus interesses – noticiavam, enquanto agora qualquer pessoa com
um celular na mão pode mostrar a verdade de uma situação. Vejo uma juventude engajada, preocupada, atuante, mobilizada
e isso, isso é a força de mudança que precisamos.
Vejo essa luz também porque, no fim das contas, apesar de
reclamona sou otimista. É por isso que escrevo!