Eu sou – e quem me conhece sabe
bem – muito crítica a tudo que diz respeito ao Brasil. Não é porque nego minha
nacionalidade e nem porque não gosto do meu país. Muito pelo contrário, amo meu
país, amo ser brasileira, amo fazer parte de um povo que é tão bem quisto pelo
mundo. As críticas que faço são tentando entender o porquê de haver tanta coisa
errada acontecendo quando na minha cabeça é tudo tão claro.
Pois bem, eu já escrevi há tempos
atrás sobre a questão das tais “cadeiras dos partidos” e o quanto elas burlam a
nossa democracia (Democracia? Eu acho que não.),
por isso não tem como pintar um quadro onde tudo é lindo e o Brasil é o país
mais democrático do mundo... longe disso.
No entanto, podemos sim nos
orgulhar de ter a liberdade de falarmos o que quisermos, de publicar nosso voto
falando em quem e porque votamos, podemos fazer passeatas e reivindicações de
todos os cunhos possíveis e imagináveis – exemplo disso foi a campanha FORA
RENAN CALHEIROS que permeou a internet nas últimas semanas tendo milhões de
assinaturas.
Essa liberdade de certo modo foi
conquistada através dos anos e custou caro: repressão, exílios, censura de
todas as formas de arte, jornais sendo fechados, muitas mortes na queda de braço
da sociedade civil contra o “militarismo”, enfim, foi tudo muito difícil como
qualquer conquista. Por tudo isso, pra mim o óbvio é que a liberdade de
expressão fosse sempre valorizada e que o direito das pessoas de falar valesse
sempre, acima de tudo.
Quero deixar bem claro que o que
será escrito agora não tem NADA haver com a defesa de uma organização política
e social que eu, por sinal, desconheço, mas sim com a forma que tratamos a
liberdade de expressão aqui na nossa tal Pátria Amada Brasil. Eu fiquei e ainda
estou abismada com a recepção dada à Yoani Sánchez e com o burburinho desde sua
chegada. Como disse, não estou defendendo e nem criticando suas ideias e nem o
regime de Cuba, até porque não posso falar disso com propriedade. O que me
impressiona é a hipocrisia das mesmas pessoas que defendem a democracia e
enchem o peito para falar que os grandes figurões do seu partido lutaram sem
medir forças para garanti-la, barrarem o direito de falar de uma pessoa que
está APENAS defendendo seus ideais. É a mesma coisa que faço aqui e que cada um
faz onde quiser. O centro da questão não é ela estar certa, mas sim os
brasileiros que tomaram essa postura repulsiva estarem errados.
Eu lembro perfeitamente que
quando aconteceu o escândalo de Cesare Battisti e o então Presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva vetou a extradição do mesmo, não houve nem
10% das manifestações das últimas semanas. Considerando que Sánchez é uma
blogueira defendendo uma ideia e Battisti um assassino condenado à prisão perpétua
em seu país, a mim parece óbvio qual deles não deveria estar no Brasil. No
entanto, não é isso que vi na época e vejo hoje. Se alguém pudesse me explicar
o porquê dessa discrepância de valores, eu agradeceria.
Eu me estendi mais do que
deveria, mas é só porque realmente gostaria de entender porque as pessoas são
tão influenciáveis pelo momento, pelos seus partidos políticos, pelos jornais
vazios e discursos evasivos.
Se se defende o direito de falar,
que TODOS possam. Se se defende o direito de manifestar, que TODOS possam. Mas
é preciso tomar cuidado para que a minha manifestação não cale a voz do
discurso do próximo.
Para encerrar, uma charge que achei muito pertinente:
** Yoani Sánchez por Maurício Ricardo.
Para encerrar, uma charge que achei muito pertinente:
** Yoani Sánchez por Maurício Ricardo.