Devido a vários comentários de todos
os cunhos que tenho visto em minha timeline, resolvi manifestar minha opinião
sobre o que aconteceu ontem, 08 de Julho de 2014, no Mineirão. Farei isso no
blog porque é onde costumo derramar meus pensamentos, e farei de maneira
bastante tranquila, pois tive a mesma opinião com relação a esse grandioso
evento desde 2007, por isso adjetivos como hipócrita, coxinha, e tantos outros,
não me atingem. A carapuça não me serve.
Como eu disse, desde o anúncio de
que a Copa do Mundo de 2014 seria no Brasil, lá em 2007, senti um frio na
espinha só de pensar em tudo que poderia acontecer – e se concretizou. Pensava,
com muito pesar, nos projetos superfaturados, nos desvios de dinheiro, na
promoção de cartolas e figurões, nas campanhas políticas pautadas no futebol,
na euforia com a festa e consequentemente o esquecimento dos desmandos, e assim
por diante.
Com a aproximação do mundial, na
Copa das Confederações, vi o povo se mobilizar de maneira que nunca tinha visto
antes. Sim, já tinha acontecido. Não ignoro aqui tantos movimentos sociais – principalmente
encabeçados pela juventude – que já fizeram parte da nossa história, mas os
eventos de Junho de 2013 foram os primeiros que pude participar, e não só ler
em folhetins. Neles pude ver a falta de preparação do país representada pela
truculência e terrorismo do Estado personificado na brigada militar gaúcha e
nas polícias militares de tantos outros estados.
Vi pessoas sendo retiradas de
seus lares da pior maneira possível, ficando atiradas à sua própria sorte, mais
marginalizadas e subjulgadas do que nunca. Vi trabalhadores perderem a vida nas
obras dos tão esperados estádios padrão FIFA, e ficar por isso mesmo. Vi uma
imprensa extremamente parcial, a exceção do canal ESPN, esquecendo totalmente
do seu papel informativo para preocupar-se, cada vez mais, em tomar partido e
garantir seu pedaço de bolo na festinha da CBF/FIFA e de tantos outros.
Quando o mundial se aproximou
ainda mais, vislumbrei, temerosamente, o impacto negativo desse mundial na
minha vida, considerando que sou uma profissional comissionada e, quando não
trabalho, não ganho. Não, não estou no time dos que clamaram por feriado. Bem
pelo contrário. Sinto não poder contar com a isenção das minhas contas durante
esse mês assim como a FIFA é isenta de seus impostos. Mas como dizem, não é pra
quem quer, é só pra quem pode, né não?
No entanto, vi pessoas que
criticaram fervorosamente a Copa do Mundo pintando a cara de verde e amarelo,
colocando bandeira nas costas e cantando: “eeeeeeeeeeeeeeu, sou
brasileeeeeeeeeeeeiro, com muito orguuuuuuuuuuulho, com muito
amooooooooooooor...”. Desculpem-me, mas isso sim é me soa como hipocrisia.
Não tenho absolutamente nada
contra quem torce pela seleção, muito pelo contrário. Venho de uma família que
sofre – e hoje provavelmente está despedaçada – com a seleção e torce com todo
amor por ela. Mas também exijo que o meu posicionamento contrário seja
respeitado. No entanto, essa postura volúvel de “vou de acordo com a maré” é
muito, mas muito triste.
O tal do “Maria vai com as outras”
é um elemento muito perigoso na sociedade. Ele protestou quando achou que era
descolado estar em protestos, aí quando a galera fez feriado e se reuniu pra
beber cerveja nos jogos ele também estava lá, como não? Mas depois da derrota
ele julgou que seria super maneiro sair vomitando ofensa aos jogadores, rasgando
bandeiras e fazendo baderna. Que patriota é esse? Patriota sou eu, que tento
fazer a minha parte pro meu país caminhar.
Essa reação não diz respeito ao
futebol, mas sim, a uma patologia social na qual estamos imersos. O povo foi
quem mais sofreu com a preparação do mundial. Mundial esse que deixou o povo
fora dos estádios, porque esse povo – o brasileiro trabalhador – não podia
pagar o que a dona FIFA queria receber. A massa brasileira só viu a banda
passar, sem poder dançar sua música. Essa mesma sociedade opressora coloca o
futebol como o grande salvador da pátria, tornando-o o algoz do mundo quando
tem um resultado negativo.
Nunca, em momento algum, me
coloquei contra os atletas. Eles estão na ponta de um iceberg que é muito, mas
muito profundo. Mas acho surreal o terrorismo feito com essas criaturas. Não
vou aqui tecer críticas sobre o futebol, pois desse não entendo. Mas assim como
em tantos outros âmbitos, os medalhões com seu anseio pelo poder minam cada vez
mais o futebol, e deixam a responsabilidade nas mãos de meninos. Sim, são
meninos correndo atrás do seu sonho de defender a canarinho. Um exemplo é o
menino David Luiz, que tem se mostrado generoso com seus fãs e companheiros de
seleção e profissão, e dono de uma postura esportiva exemplar. Esse menino
trazia em suas costas – e isso ficou evidente em uma entrevista que concedeu ao
término da partida – a responsabilidade de “trazer alegria pro seu povo, que jásofre tanto...”. Fiquei sem palavras ao ver a dor desse garoto ao pedir
desculpas para a torcida e, visivelmente despedaçado, se apropriar de uma
responsabilidade que não é dele. Eu jamais teria coragem de vaiar esses atletas
como foram vaiados, nem de crucificá-los como estão sendo crucificados.
Te acalma menino, não leva o
mundo nas costas. Ele é pesado demais!
Senti vergonha não por uma
derrota histórica, mas sim por ver a seleção adversária aplaudindo e empurrando
a brasileira para frente em sinal de respeito e admiração, enquanto a elite
brasileira a vaiava covardemente. O patriotismo ocasional foi-se embora da
mesma maneira que veio. Levado pelo vento do nosso tão tropical inverno.
Depois quem é que vai dizer que
futebol não se confunde com política? Que futebol não trata dos problemas
sociais? Não me venham com bitolices e senso comum.
O Brasil não estava pronto para
realizar o mundial. E o povo brasileiro não está pronto para perder, mesmo
perdendo tanto o tempo todo.
Tudo isso está amarrado, todos os
fatos se relacionam entre si. E o não seria o hexa que traria a resposta!